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lenda de Aang é uma série, criada por Michael Dante Dimartino e Bryan
Konietzko, que eu não poderia deixar de falar por aqui. A lenda de Aang é
aquele desenho que eu reassisto todo ano. Meu preferido entre todos (apesar de
também gostar muito de Rick and Morty, Bojack Horseman, Gravity
Falls, Carmen Sandiego, entre outros).
Avatar: A
lenda de Aang se passa em um mundo onde as populações se dividem em quatro
elementos: água, terra, fogo e ar. Esse mundo está passando por uma grande
guerra que já dura um século, devido ao avanço da nação do fogo sobre os outros
territórios em nome de sua suposta supremacia. Só o Avatar (única pessoa capaz
de dominar todos os quatro elementos) - que, no caso, é nosso querido Aang, um
dominador de ar - tem poder suficiente para acabar com essa guerra, mas ele
desapareceu por cem anos e agora que voltou precisará correr contra o tempo
para aprender a dobrar a água, a terra e o fogo e derrotar a nação do fogo
antes que seja tarde demais e não haja mais o que salvar.
Essa série
perpassa tantas lições, é tão bem feita, tão bem pensada e ao mesmo tempo tão
natural, que é difícil não se apaixonar por ela. A começar pelos personagens,
todos têm sua profundidade, têm suas razões, arcos incríveis de evolução que
demonstram a importância não só das experiências, mas também de mestres no que
diz respeito ao desenvolvimento pessoal. Destaque, principalmente, para a
personagem Katara que vivia com a "aldeia toda" (quem pegou, pegou,
quem não pegou, assiste) no polo Sul, nunca tinha saído daquela região, mas
acabou desbravando o mundo enquanto ajudava Aang e ainda encontrou pessoas que
te ensinaram muito pelo caminho.
E já
aproveitando a brecha que essa personagem também abre para comentar, é
importante ressaltar a forma como as figuras femininas são representadas nesse
desenho. Talvez, a melhor representação que já vi nas telinhas. Elas são fortes
sem parecer forçado, elas são sensíveis, mas não são meros pares românticos,
não são meras personagens secundárias, elas ensinam muito aos meninos e também
aprendem muito com eles. Elas são normais, cada uma com sua personalidade e,
nossa, como é bonito ver a forma como elas fazem diferença para a história. Katara,
Toph, Suki, Azula, Mai, Ty Lee, todas são personagens maravilhosas, motivos
pelo qual aplaudo muito os criadores da série.
Toph, então, é
um caso extremamente interessante. Ela é uma personagem cega, mas isso não é
considerado como um defeito em nenhum momento na série, na verdade, é uma
vantagem e, inclusive, ela até brinca sobre sua condição. Toph é uma das
personagens mais fortes da obra e, o melhor, ela sabe disso! A inclusão é algo
natural no desenho, há personagens de todos os tipos e essa pluralidade, essa
representatividade é um dos pontos que torna tudo mais incrível. Sobretudo,
considerando o ano (2005) em que ele foi lançado, quando essas discussões ainda
nem estavam em alta.
Confesso que
as relações entre os personagens - não só humanos, mas animais também (Momo e
Appa são maravilhosos demais, não tem como negar isso) - é a parte que mais
gosto na obra. Poderia facilmente ver as pessoas ao meu redor no lugar das
personagens e vice-versa. Não tenho, realmente, ninguém nos meus círculos sociais
que domine elementos haha, mas em se tratando das personalidades, conversas e
até mesmo piadas retratadas na série posso dizer que me identifico facilmente
com várias delas no meu dia a dia. Os diálogos não são robóticos, teatrais, não
há monólogos de vilões explicando o seu "grande porquê". Às vezes, a
conversa é simplesmente os personagens questionando um urso ser apenas um
urso enquanto estão descansando - e, meu Deus, como eu adoro essa cena! As
relações se desenvolvem com o tempo e a cumplicidade, a intimidade, melhor
dizendo, a amizade que floresce desse desenvolvimento é, claramente, a coisa
mais linda de acompanhar no decorrer da história. A equipe Avatar é, de longe,
um dos grupos de heróis com maior sincronia, melhor dinâmica que já vi.
A lenda de
Aang é um desenho que progride a cada temporada. O
amadurecimento não se vê apenas na história em si, mas nos personagens,
principalmente. Eles são crianças/adolescentes no meio de uma guerra. Muitas
vezes, eles ficam cara a cara com a repressão, o genocídio, a manipulação, a
ganância, a inocência, o medo, a vingança, a raiva, a injustiça... Avatar tem
um tema pesado em seu contexto, apesar de não lembrarmos muito disso enquanto
assistimos, devido ao balanceamento que o humor faz. Mas, o mais importante é a
lição de amor e esperança que a série deixa, não só aos poucos, em cada episódio,
mas, essencialmente, no desfecho sensacional - me arrepio toda vez que
(re)assisto - que a obra dá à lenda de Aang, à sua busca para restaurar o
equilíbrio do mundo enquanto entende mais sobre si mesmo.
Algumas reflexões...
O Avatar em si
é a única pessoa capaz de dominar os quatro elementos, a ponte entre o mundo
físico e espiritual, ou seja, a representação ideal de equilíbrio.
Contudo, para que ele atinja esse ápice, é preciso que conheça mais sobre si
mesmo, ou então, é apenas poder inconsciente e descontrolado. Por mais que seja
um dos seres mais poderosos na série, ainda assim, o Avatar precisa de mestres,
entrar em contato e aprender com culturas diferentes, estar sempre aberto ao
conhecimento e agir com amor em relação a todas as formas de vida para se
desenvolver. Ele precisa entender sobre o mundo e, principalmente, o reflexo
deste sobre ele, para que possa controlar suas próprias emoções e não se deixar
levar completamente por elas enquanto estiver cumprindo com sua
responsabilidade de manter a ordem no mundo. O encontro de Aang com o guru, por
exemplo, é uma das partes mais incríveis e mais importantes da série, é quando
ele aprende a controlar o estado avatar, entendendo como o fluxo da natureza
está, também, dentro dele. Tudo isso, remete à ideia da mudança começando de
dentro, da importância do autoconhecimento e consequente
autocontrole. É interessante ver como os outros personagens também
caminham em direção a ele (o equilíbrio) quando estão abertos a aprender
uns com os outros, independente do elemento ao qual pertencem. O personagem
Iroh, por exemplo, mostra isso muito bem. Não é à toa que é, também, um dos
maiores dominadores. Ele também erra, mas aprende com seus erros, não reluta em
enxergar o cinza no preto e branco no qual o mundo se encontra.
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