setembro 06, 2020

Marcelino Pedregulho


Marcelino Pedregulho... Sim, mais um livro "infantil" (desculpa, não me controlo, adoro esses hihi). Mas, assim como O menino do dedo verde, ele também é um desses que, tanto crianças, quanto adultos podem terminar a leitura com um quentinho no coração e um sorriso no rosto!

Escrito por Sempé e publicado em 2009, Marcelino Pedregulho conta a história desse garoto que tem um pequeno "problema": ele enrubesce sem motivo algum. Não apenas isso: ele enrubesce sem motivo algum a todo instante, menos quando realmente "deveria" (por constrangimento, vergonha). Aqui, então, chegamos a um ponto em que, creio eu, você já deve ter percebido o meu uso exagerado de aspas nesse post... Foquemos nas deste parágrafo especificamente. Quantas vezes encaramos algo que é nosso, algo que é natural, que simplesmente faz parte de quem somos como um "problema", só porque a sociedade impõe como "deveríamos" ou não ser? Fazendo-nos, assim, questionar a nós mesmos, reprimir quem somos e, às vezes (por que não?), nos isolar. Se ninguém me compreende, se todos me apontam como estranho, prefiro ficar sozinho. E essa é a reação de Marcelino a essas imposições, aos preconceitos que encaram o diferente como uma doença: ele passa a se refugiar em suas próprias fantasias (com certeza as mais fofas, apesar de tristes, já que, no fundo, ele não se sente bem consigo mesmo, é inseguro de si). Aqui, então, já somos levados a refletir sobre como os preconceitos apenas nos aprisionam, sobre como a autenticidade do ser humano não vem sendo potencialmente aproveitada por conta das nossas estruturas sociais que exatamente nos reprimem, nos tornam inseguros de nós mesmos, nos impedindo de dividir o nosso máximo como indivíduos e, consequentemente, evoluir como sociedade, por estarmos tão fechados em caixinhas pré-estabelecidas.

Mas (amém!), o isolamento de Marcelino não se prolonga por muito tempo. Vamos, então, até a parte da história na qual descobrimos que ela se trata, principalmente, de uma poesia sobre a amizade! É a parte na qual Marcelino conhece Renê Rocha, um menininho diferente, também, da maioria, um garoto que passou por situações bem parecidas com a de Pedregulho e, portanto, o compreende. Eles não olham para as peculiaridades um do outro como um "problema", algo a ser "tratado", muito pelo contrário, eles as adoram. E que grande amizade nasce dessa conexão! Cheia de trocas, apoio, cuidado, presença, compreensão e muita diversão. Aquela construção, tijolo por tijolo, do amor (mensagem parecida com a de algumas obras de Lora Zombie e Pascal Campion). Ambos despertam a autenticidade um do outro, conseguem ser eles mesmos sem vergonha, sem medo. Os momentos de silêncio entre os dois, apenas aproveitando a companhia um do outro, são as minhas ilustrações favoritas do livro. Extremamente repletas de significado, são a representação dos sentimentos sendo simplesmente sentidos. O amor, em toda sua plenitude, não precisa ser dito pra existir (como em "Common wrong use of I love you", obra de Lora Zombie, onde as palavras, na falta de atitudes equivalentes, perdem todo o sentido). Quando o amor é verdadeiro, ele vai se manifestar em tudo, seja no silêncio, seja nas brincadeiras, seja no diálogo, seja no cuidado, e sempre vai fazer bem, porque o amor não incomoda, ele traz paz.


Enquanto estou escrevendo essa análise, talvez (só talvez hihi) eu esteja um pouco viciada na música invisible string, do álbum Folklore de Taylor Swift, e não consigo evitar seguir um pouco pela linha dessa composição e refletir, também, sobre a possibilidade de que estejamos destinados a conhecer pessoas responsáveis por trazer um brilho diferente para nossas vidas (despertar o melhor em nós). E que as situações difíceis pelas quais passamos estão apenas nos preparando para esses encontros mágicos, sendo as jornadas infernais que nos guiam ao paraíso. Tanto Marcelino, quanto Renê, viveram situações semelhantes e foi exatamente ter passado por elas (e, por isso, entenderem as vulnerabilidades um do outro) que os aproximou tanto. Será que se não fosse tudo do jeito que foi, eles virariam amigos? Será que não foi tudo para, no fim, uni-los? Uma cordinha invisível amarrando um ao outro... Renê ter virado vizinho de Marcelino pode ter sido obra do destino, uma dessas relações transformadoras colocadas em nossos caminhos para nos ajudar a crescer, a descobrir quem somos, a reconhecer nosso próprio valor (e, no caso, o mais legal, fazer isso através do amor e não da dor).

São aquelas conexões que deixam suas marcas, que, quando acontecem, seguem com a gente para sempre, seja presencialmente, seja na memória. E isto podemos ver quando, infelizmente, os dois são separados pela vida. Na verdade, pelo descaso dos pais, tão imersos em seus próprios problemas, que trataram o da criança como algo sem tanta importância, sendo que, na perspectiva dela, a questão é, sim, algo que a incomoda e precisa ser resolvido. Aqui, podemos pensar um pouco sobre comparações de sentimentos e como isso é algo inválido e injusto. Mas, enfim, voltando ao assunto... Apesar de terem se distanciado fisicamente, Pedregulho continuou lembrando de Rocha com bastante carinho. A amizade deles deixou seu efeito, foi uma experiência que marcou sua vida e não tinha mais como ele voltar a ser quem era antes disso. Tanto que não passou a se isolar e se sentir inseguro novamente, ao contrário, ele fez novas amizades e já conseguia falar sobre sua singularidade sem se sentir envergonhado dela.

O amor sobrevive à distância, sobrevive ao tempo, supera os obstáculos. E quando Marcelino, já mais velho, encontra-se preso em um sistema e pensando coisas como "é idiota ruborizar desse jeito!..", é o amor entre ele e Renê que o renova, que lhe relembra a beleza de se viver sem medo, sem vergonha, sendo inteiro, se entregando às brincadeiras, assim como faziam na infância (coisas que, às vezes, esquecemos quando afundamos em rotinas). É bonito ver como quando essa renovação acontece, ele a agarra e a valoriza, pois sabe que esse amor está acima de qualquer ideia pré-estabelecida, obrigação ou trabalho (como quando, mesmo no meio do expediente, ele faz questão de atender uma ligação de uma pessoa que ama). Marcelino Pedregulho é uma poesia ilustrada sobre o amor, sobre esses relacionamentos que nos transformam. E que maestria, que jeito mais fofo de passar essa mensagem! É um livro simples, com um fluir nem um pouco complicado e que não traz nada além de conforto e paz ao coraçãozinho de quem o lê. Bem como o sentimento sobre o qual ele fala...

O menino do dedo verde


Assim como Avatar: a lenda de Aang, só que no âmbito literário agora, O menino do dedo verde é aquele livro que eu releio todo ano. O meu preferido! Um livro que quanto mais eu releio, mais eu gosto (e olhe que o ganhei lá em 2010). O menino do dedo verde, não diferente de outras obras infantis as quais sou apaixonada, me agradou quando eu era pequena e me fascinou mais e mais à medida que fui crescendo. Tenho certeza de que no ano que vem estarei sentindo que deixei passar várias coisas nessa análise que ainda não captei dessa leitura.

O livro, escrito por Maurice Druon e lançado em 1957, conta a história de Tistu, um garoto que, desde seu nascimento ao impor seu próprio nome, já demonstrava ser uma dessas pessoas que nascem com determinada missão na Terra e não para ser gente grande. O que já indica que sua jornada não é tão fácil, afinal, combater ideias pré-fabricadas (preconceitos) exige muito esforço. Mas é importante pontuar, também, que Tistu é um garoto que já nasceu com muitos privilégios, o que, de certa forma, facilita sim sua jornada quando comparamos a outras situações, como as lutas das minorias sociais por exemplo. Ainda assim, apesar de ter sido escrita há 63 anos atrás, a obra possui diversas mensagens incríveis que continuam precisando serem ouvidas.

Logo nos primeiros capítulos, temos uma crítica fantástica ao sistema educacional: Tistu simplesmente não consegue ficar acordado na sala de aula. As explicações do professor viram uma canção de ninar, o sono bate e ele dorme. Mal entra na escola, logo o garoto é expulso. Aqui, já somos levados a pensar a respeito do método de ensino adotado pelas escolas. Um método tedioso, cansativo e arcaico, que não atrai, não estimula seus alunos, tornando a aprendizagem algo chato e improdutivo. Quais assuntos dados na escola realmente aprendemos? No meu caso particular, posso responder que apenas aqueles os quais foram reforçados pelo meu dia a dia. "A vida, afinal, é a melhor escola que existe". Não é à toa que a solução encontrada para Tistu é aprender as coisas que deveria saber, olhando-as com os próprios olhos. É vivendo, colocando a mão na massa, vendo as coisas de perto, ouvindo, errando e, principalmente, questionando tudo, que o personagem descobre mais não só sobre o mundo, mas especialmente sobre si mesmo e seus talentos. O que me leva a falar sobre...

...O dedo verde! O poder de fazer florescer qualquer lugar em que ele tocar, afinal, "há sementes por toda parte". Ou seja, há potencial de criação, há ideias em todo lugar, e todos nós temos esse poder de realizá-las, cada um da sua forma, com o seu talento. E todo talento, acho importante ressaltar, pode ser aprimorado tanto quando é praticado, quanto através de mestres, como é o caso do Sr. Bigode no livro, personagem importantíssimo para o desenvolvimento de Tistu. Um mestre é aquele que sabe reconhecer nossos dons e nos ensina a melhorá-los, sem tirar nossa autonomia, sem querer nos mudar, apenas repassando o conhecimento que adquiriu com sua própria experiência de vida e tendo a humildade de admitir quando seu trabalho está completo, quando o aprendiz o supera.


Tistu não economiza do seu poder para fazer as coisas mudarem em sua cidade, para ressignificar as ideias preestabelecidas. E cada feito seu tem um impacto fortíssimo nas pessoas ao redor. O primeiro deles, o golpe da cadeia, já nos leva a refletir várias coisas a respeito do nosso sistema penitenciário: ele é justo? É eficiente? Estimula alguém a não cometer mais o crime que o levou até ali ou apenas piora a situação? Será que a forma como as coisas estão sendo feitas não deveriam ser reformuladas? "Será preciso fazer tanto barulho para manter a ordem?", "E se a gente fizesse nascer flores para eles? A ordem ficaria menos feia". E, de fato, as flores de Tistu só trazem resultados bons. Ele fornece amor ao que estava baseado em ódio e tristeza, e isso tem como resposta o amor também (reflexão que me lembra A face da guerra de Salvador Dalí). Os prisioneiros esquecem de fugir, param de brigar e reclamar, tomam gosto pela jardinagem. Isto, principalmente, foi o que mais me chamou a atenção, o garoto deu a oportunidade aos presidiários de descobrirem o gosto por coisas novas, estimulou uma atividade (impacto parecido com o de Miguel, do filme Viva - a vida é uma festa, em sua família). Não dá pra repensar a vida, mudar, sem a capacidade de visualizar novos caminhos e é isso que o dedo verde propicia.

No seu segundo ato, então, considero essa mensagem ainda mais forte. É quando o personagem toca a favela! As flores de Tistu fornecem simplesmente, olha só!, bem-estar e visibilidade (todos ao redor passam a prestar atenção naquilo que ficava à margem). É a oportunidade dada e, o melhor, agarrada. A favela, com toda a sua autonomia, prospera rapidinho quando isso acontece. Tistu não precisou dizer a eles o que fazer (ele não sabia mesmo) ou dar dinheiro nas suas mãos. Em sua posição de privilégio, a maior ajuda que ele poderia dar era fornecer a oportunidade de serem vistos e ouvidos (não falar por eles) e isso ele faz com maestria. Aqueles em posição de miséria sabiam do que precisavam, sabiam da sua situação e tinham total capacidade de mudá-la, só não o faziam porque não lhes era permitido. A favela era uma prisão com grades invisíveis. Limites não explícitos (a indiferença, a invisibilização) mas que, do mesmo jeito, privavam a liberdade de uma parte da população.

O livro inteiro aborda assuntos sérios com extrema delicadeza. O feito no hospital, por exemplo, no qual é apresentado ao leitor um caso de depressão, nos leva a várias reflexões sobre as relações não apenas entre profissionais da saúde e pacientes, mas humanas em geral, inclusive a nossa com nós mesmos: "a medicina não pode quase nada contra um coração muito triste. Aprendi que para a gente sarar é preciso ter vontade de viver", "para cuidar dos homens é preciso amá-los bastante". As flores, aqui, são exatamente esse amor, esse querer bem (próprio e do outro), o que é a nossa maior arma, o que nos move, nos faz plenos. E não para por aí, a obra estende esse amor para as relações com os animais também, trazendo em suas linhas lições sobre o Bem-estar animal e a importância do enriquecimento ambiental como ajuda para garanti-lo (conceito que só fui descobrir há pouco tempo, na faculdade, sem perceber que já tinha lido sobre ele várias vezes aqui, só que sem essa terminologia).

Além de nos grandes atos de Tistu, o livro é recheado de mensagens escondidas em poucas palavras, em simples parágrafos. Em pequenos trechos, podemos pensar sobre como não devemos julgar ninguém, como o pensamento crítico é reprimido (ou temido) pela nossa organização social, como temos dificuldade de sair das nossas zonas de conforto e encarar o novo (apesar da nossa incrível capacidade de nos habituarmos a tudo), como cada um tem seu próprio jeito de ser e não faz sentido querer que todos ajamos da mesma forma (descer a escada pelo corrimão ou pelo degrau dá na mesma no final: chega-se no andar de baixo) e muito, muito mais. O menino do dedo verde é repleto de coragem, esperança e amor em suas páginas. O autor conseguiu escrever sobre os problemas da sociedade e as nuances da vida com uma sutileza admirável, impressionante. E o desfecho, então, é a coisa mais linda! É um livro simplesmente incrível que, acredito, deveria ser conhecido por todos.

Avatar: A lenda de Aang


Avatar: A lenda de Aang é uma série, criada por Michael Dante Dimartino e Bryan Konietzko, que eu não poderia deixar de falar por aqui. A lenda de Aang é aquele desenho que eu reassisto todo ano. Meu preferido entre todos (apesar de também gostar muito de Rick and Morty, Bojack Horseman, Gravity Falls, Carmen Sandiego, entre outros).

Avatar: A lenda de Aang se passa em um mundo onde as populações se dividem em quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Esse mundo está passando por uma grande guerra que já dura um século, devido ao avanço da nação do fogo sobre os outros territórios em nome de sua suposta supremacia. Só o Avatar (única pessoa capaz de dominar todos os quatro elementos) - que, no caso, é nosso querido Aang, um dominador de ar - tem poder suficiente para acabar com essa guerra, mas ele desapareceu por cem anos e agora que voltou precisará correr contra o tempo para aprender a dobrar a água, a terra e o fogo e derrotar a nação do fogo antes que seja tarde demais e não haja mais o que salvar.

Essa série perpassa tantas lições, é tão bem feita, tão bem pensada e ao mesmo tempo tão natural, que é difícil não se apaixonar por ela. A começar pelos personagens, todos têm sua profundidade, têm suas razões, arcos incríveis de evolução que demonstram a importância não só das experiências, mas também de mestres no que diz respeito ao desenvolvimento pessoal. Destaque, principalmente, para a personagem Katara que vivia com a "aldeia toda" (quem pegou, pegou, quem não pegou, assiste) no polo Sul, nunca tinha saído daquela região, mas acabou desbravando o mundo enquanto ajudava Aang e ainda encontrou pessoas que te ensinaram muito pelo caminho.


E já aproveitando a brecha que essa personagem também abre para comentar, é importante ressaltar a forma como as figuras femininas são representadas nesse desenho. Talvez, a melhor representação que já vi nas telinhas. Elas são fortes sem parecer forçado, elas são sensíveis, mas não são meros pares românticos, não são meras personagens secundárias, elas ensinam muito aos meninos e também aprendem muito com eles. Elas são normais, cada uma com sua personalidade e, nossa, como é bonito ver a forma como elas fazem diferença para a história. Katara, Toph, Suki, Azula, Mai, Ty Lee, todas são personagens maravilhosas, motivos pelo qual aplaudo muito os criadores da série.

Toph, então, é um caso extremamente interessante. Ela é uma personagem cega, mas isso não é considerado como um defeito em nenhum momento na série, na verdade, é uma vantagem e, inclusive, ela até brinca sobre sua condição. Toph é uma das personagens mais fortes da obra e, o melhor, ela sabe disso! A inclusão é algo natural no desenho, há personagens de todos os tipos e essa pluralidade, essa representatividade é um dos pontos que torna tudo mais incrível. Sobretudo, considerando o ano (2005) em que ele foi lançado, quando essas discussões ainda nem estavam em alta.


Confesso que as relações entre os personagens - não só humanos, mas animais também (Momo e Appa são maravilhosos demais, não tem como negar isso) - é a parte que mais gosto na obra. Poderia facilmente ver as pessoas ao meu redor no lugar das personagens e vice-versa. Não tenho, realmente, ninguém nos meus círculos sociais que domine elementos haha, mas em se tratando das personalidades, conversas e até mesmo piadas retratadas na série posso dizer que me identifico facilmente com várias delas no meu dia a dia. Os diálogos não são robóticos, teatrais, não há monólogos de vilões explicando o seu "grande porquê". Às vezes, a conversa é simplesmente os personagens questionando um urso ser apenas um urso enquanto estão descansando - e, meu Deus, como eu adoro essa cena! As relações se desenvolvem com o tempo e a cumplicidade, a intimidade, melhor dizendo, a amizade que floresce desse desenvolvimento é, claramente, a coisa mais linda de acompanhar no decorrer da história. A equipe Avatar é, de longe, um dos grupos de heróis com maior sincronia, melhor dinâmica que já vi.

A lenda de Aang é um desenho que progride a cada temporada. O amadurecimento não se vê apenas na história em si, mas nos personagens, principalmente. Eles são crianças/adolescentes no meio de uma guerra. Muitas vezes, eles ficam cara a cara com a repressão, o genocídio, a manipulação, a ganância, a inocência, o medo, a vingança, a raiva, a injustiça... Avatar tem um tema pesado em seu contexto, apesar de não lembrarmos muito disso enquanto assistimos, devido ao balanceamento que o humor faz. Mas, o mais importante é a lição de amor e esperança que a série deixa, não só aos poucos, em cada episódio, mas, essencialmente, no desfecho sensacional - me arrepio toda vez que (re)assisto - que a obra dá à lenda de Aang, à sua busca para restaurar o equilíbrio do mundo enquanto entende mais sobre si mesmo.

Algumas reflexões...


O Avatar em si é a única pessoa capaz de dominar os quatro elementos, a ponte entre o mundo físico e espiritual, ou seja, a representação ideal de equilíbrio. Contudo, para que ele atinja esse ápice, é preciso que conheça mais sobre si mesmo, ou então, é apenas poder inconsciente e descontrolado. Por mais que seja um dos seres mais poderosos na série, ainda assim, o Avatar precisa de mestres, entrar em contato e aprender com culturas diferentes, estar sempre aberto ao conhecimento e agir com amor em relação a todas as formas de vida para se desenvolver. Ele precisa entender sobre o mundo e, principalmente, o reflexo deste sobre ele, para que possa controlar suas próprias emoções e não se deixar levar completamente por elas enquanto estiver cumprindo com sua responsabilidade de manter a ordem no mundo. O encontro de Aang com o guru, por exemplo, é uma das partes mais incríveis e mais importantes da série, é quando ele aprende a controlar o estado avatar, entendendo como o fluxo da natureza está, também, dentro dele. Tudo isso, remete à ideia da mudança começando de dentro, da importância do autoconhecimento e consequente autocontrole. É interessante ver como os outros personagens também caminham em direção a ele (o equilíbrio) quando estão abertos a aprender uns com os outros, independente do elemento ao qual pertencem. O personagem Iroh, por exemplo, mostra isso muito bem. Não é à toa que é, também, um dos maiores dominadores. Ele também erra, mas aprende com seus erros, não reluta em enxergar o cinza no preto e branco no qual o mundo se encontra.

Pascal Campion


Nascido em River Edge, Nova Jersey, Pascal Campion começou a desenhar desde muito pequeno. Não foi à toa que, profissionalmente, enveredou-se pelas artes. Entre todas as possibilidades, foi na arte digital que mais se encontrou e aperfeiçoou. Sua lista de clientes inclui: Dreamworks Animation, Paramount Pictures, Disney TV, Cartoon Network, entre outros. Suas produções sempre foram rápidas e isso ajudou Pascal a prosperar. Seu projeto “Esboço do dia”, por exemplo – como o próprio nome indica, todo dia ele cria um novo esboço, embora colorido – lhe rendeu um portfólio imenso e números crescentes de seguidores nas redes sociais. Em seus trabalhos é possível ver como o dia a dia e sua família são fortes inspirações para ele, sendo a sua marca.

Obras, devaneios e reflexões...


Jogar-se, mergulhar de cabeça. A primeira obra mostra isso sendo feito em conjunto, trazendo a ideia de abrir-se com o outro, ser inteiro, mostrar suas vulnerabilidades e, portanto, criar conexões fortes que não nos deixam “no escuro” (inseguros, reprimidos) em relação ao outro, mas sim nos dá abertura para expressar nossa autenticidade, para mostrar (tornar visível, claro – a lua na noite) os nossos defeitos e qualidades sem medo. Na segunda obra, entretanto, é sozinho, representando os mergulhos em nós mesmos, a necessidade de nos autoconhecer, enfrentar nossas questões das mais superficiais às mais profundas (ao mergulhar vamos do raso para o fundo) para entender quem somos, quais são os nossos limites, o que nos faz bem e o que nos faz mal. Apenas nos autoconhecendo adquirimos a consciência sobre os rumos que queremos tomar em nossas vidas e podemos expressar essa autenticidade abordada na primeira obra.


Não dá para mudar enquanto você não quiser. Os passos necessários para evoluir (subir a escada) e sair de uma situação de sombra (confuso, com medo, sem rumo) para uma de iluminação (os tons de azul e amarelo indicando tranquilidade, serenidade, alegria e otimismo) só podem ser dados por você. É uma questão de ter coragem, de encarar de frente. A personagem já está voltada para o caminho que a levará ao encontro da sua luz pessoal (o que a faz bem, o que a faz ser por inteiro, o que quer para si), agora, basta que ela dê os passos para chegar lá.


Sobre permitir-se sentir, estar presente, aberto a encarar as emoções de cabeça erguida. Sem esconder, sem sufocar e, portanto, aprendendo a lidar com elas.


Mais uma vez a representação de uma escada. Aqui, no entanto, ao invés de voltada para os degraus que faltam para chegar ao topo, a persona encontra-se sentada nela, em estado observacional, contemplativo. Se a vida é como uma escada, às vezes a gente sobe (passa por momentos bons), às vezes a gente desce (passa por momentos ruins) e às vezes a gente para. Para pra respirar, pensar, olhar em volta e perceber em que patamar está. O quanto já percorreu? Valeu a pena? Para onde vai agora? É o momento de se autoanalisar, de equilibrar-se conscientemente e não apenas oscilando entre os altos e baixos. As pausas também são necessárias na vida, fazem parte de amadurecer, do processo de autoconhecer-se.


É nos momentos mais difíceis que descobrimos quem realmente está do nosso lado, quem nos quer bem. Os relacionamentos que vivem mesmo após as dificuldades são os mais fortes, pois é fácil estar com o outro na felicidade, mas é duradouro quando se quer estar nas dores também (não no sentido de gostar de sentir dor ou ver o outro sofrer, mas de fazer companhia, não abandonar, fornecer apoio e conforto para que a pessoa crie força e saia de seja lá qual for a situação difícil pela qual estiver passando). Relacionamentos sinceros não menosprezam a vulnerabilidade do outro, e sim consideram, compreendem e ajudam. E, claro, lembrando aqui: isso tudo tem que ser mútuo, não basta um querer ajudar, o outro também tem que querer ser ajudado, toda relação é uma via de mão dupla! Certa vez, escrevi:

”No fundo,
Estamos todos sozinhos.
Ter pessoas querendo fazer parte
Da nossa solidão
E querer fazer parte das delas
É o que torna tudo mais tranquilo:
É como fazemos amigos.”


Faz-se arte em silêncio, para si mesmo, pela necessidade de criar, de se expressar. Mostra-se arte, porque ela pode ser abrigo (conforto, identificação) para quem vai apreciar. Essa obra me lembra uma preciosa lição que o incrível Stephen King passa em seu livro Sobre a escrita: “Escreva com a porta fechada, reescreva com a porta aberta”. Faça sua arte, deixa a criatividade voar livre, deixa sair o que precisa ser expelido em sua forma mais pura, sem interferências, mantendo a essência. Antes de lapidada, interpretada, a arte precisa ser criada. É como uma vida, precisa nascer para poder crescer e se moldar com as experiências.


São os pequenos gestos de cuidado, consideração, parceria, são as pequenas conversas, os carinhos e as brincadeiras trocadas no dia a dia que sustentam boas relações. É o querer bem, estar presente, ter atenção em relação ao outro. O amor se fortifica de pouco em pouco, tijolo por tijolo, com cuidado e esforço. No fundo, são esses pequenos prazeres da vida cotidiana, esses momentos simples, mas extremamente significativos que pesam, fazem toda a diferença, nas relações.

Frida Kahlo

O Abraço de amor do Universo, a Terra (México), eu, Diego e Senhor Xolotl

Frida Kahlo foi uma pintora mexicana que marcou o mundo com sua autenticidade. Sua vida era bem difícil, além de ter sofrido um acidente no qual uma barra de ferro atravessou seu corpo, o que trouxe consequências para sua vida toda, incluindo a impossibilidade de ter filhos - Frida sofreu três abortos espontâneos -, ela também teve um relacionamento extremamente conturbado. Passou por tudo isso através da arte, das suas cores fortes e dos seus traços marcantes. Frida pintava sobre seu relacionamento, sobre seu acidente, sobre suas dores, sobre sua cultura... Sobre sua vida. E exatamente por isso, por escancarar as verdades, os sentimentos e, acima de tudo, a força de uma mulher, se tornou uma figura tão importante para o movimento feminista. Sua memória está viva não apenas em filmes e livros, mas, principalmente, na consciência de pessoas de todo o mundo que a têm como inspiração.

Obras, devaneios e reflexões...

A coluna partida
O veado ferido

Ambas ("A coluna partida" e "O veado ferido") mostram situações em que, apesar de todas as adversidades, todas as feridas, dores e lágrimas, a força para continuar de pé é maior. Apesar da Frida estar toda pregada e com a coluna partida e do veado ter sido todo flechado, nenhum deles está caído no chão, morto ou derrotado. Muito pelo contrário, estão de pé, firmes, transformando as situações ruins em força.

Sem esperança

Através da arte, podemos colocar para fora tudo aquilo que temos dentro de nós, aquilo que experienciamos, o que somos, o que mexe conosco. Ou seja, nossas perspectivas, dores, culturas, alegrias... A arte é uma das melhores formas de expressar o que vem de dentro e precisa ser expelido, dito, para não sufocar.

As duas Fridas

Aqui, gosto de pensar que os vasos sanguíneos são nada mais, nada menos que nossa trajetória, nosso percurso do início ao fim (este, demarcado pela tesoura). A obra fala sobre o tempo, a vida e suas fases. Ao longo das nossas histórias possuímos diferentes “eus”, com jeitos e gostos diferentes, moldados pelas experiências. Também é interessante pensar que, mesmo com o passar do tempo, com as marcas e diferenças que a vida traz, a essência permanece a mesma (o eu jovem e o eu mais velho permanecem juntos, seja através das mãos dadas, seja através dos vasos que os ligam) e é exatamente isso que sustenta tudo.

Autorretrato com colar de espinhos e beija-flor

O desacordo entre corpo e mente. Os pensamentos estão em um patamar de transformação e libertação (representado pelas libélulas-flores e borboletas próximas à cabeça da Frida), mas o corpo não segue junto com esse processo (o beija-flor está preso aos espinhos do colar), o que traz angústia, sofrimento (o colar de espinhos a faz sangrar, a fere). É a distância entre o sonho e sua realização, é uma forma de limitação (o não ser por inteiro), é o prender-se a espinhos (relacionamentos tóxicos, maus hábitos, negatividade, coisas que não te fazem bem) quando poderia estar voando. Mas essa situação não necessariamente é permanente, afinal, um colar é apenas uma bijuteria, você escolhe se vai usar, tirar, por quanto tempo usará ou se não combina mais contigo. A decisão entre ferir-se ou voar é de responsabilidade sua.

O que a água me deu

A água é um elemento de clareza, limpeza. O banho retira todas as impurezas (preocupações, dúvidas, traumas, situações marcantes, etc) e te permite que as veja de fora, por uma perspectiva mais ampla e, assim, seja mais compreensivo consigo mesmo, entenda o que que lhe aconteceu no passado, quem você é e o que quer para saber em que direção caminhará no presente (as pernas e os pés da pessoa que está no banho são as partes em evidência).

Hospital Henry Ford
Frieda e Diego Rivera
Autorretrato com cabelo cortado